A velha e o garrafão
Era uma vez uma velha tão sovina, tão avarenta, tão unhas-de-fome que nem a roupa lavava em condições para não gastar tanto sabão.
O dinheiro que lhe vinha parar às mãos dificilmente conhecia bolsos novos ou carteiras velhas.
Ficava eternamente dentro daquela casa que tinha as janelas fechadas para que o Sol não gastasse a cor da pintura das paredes.
E, para não cair em tentações, adivinhem onde ela metia o dinheiro!? Exactamente! Dentro de um garrafão.
Assim já não havia problemas. Porque, para tirar as notas, era preciso partir o garrafão.
Hum… Era o que faltava! Um garrafão custa uma fortuna! - Dizia ela.
E lá ia metendo notas e mais notas dentro do garrafão.
Um dia, pela tardinha, a velha viu um bichinho escuro, de orelhas levantadas e com rabo comprido a passar no corredor de sua casa.
Um rato? Mas é um rato?!... Ui, que medo! - Gritou ela, cheia de susto.
O rato desapareceu, o susto passou e a velha ainda um bocado assustada com aquilo tudo pensou: - Tenho de arranjar um gato esfomeado! É isso mesmo! Com um gato em casa os ratos desaparecem num instantinho!
Estava quase decidida a ir arranjar um gato. Mas depois voltou a pensar: - Um gato dá muita despesa! Só em leite é uma fortuna… Era o que faltava!
E não arranjou o gato.
Os dias passaram.
Os ratos aumentaram.
E uma manhã a velha começou a gritar com as mãos na cabeça:
- Fui roubada! Fui roubada!
Mas não. Os ratos só tinham transformado as notas em pedacinhos de papel.
de: António Mota